No último dia 7, Eric Schmidt, CEO do Google, colocou o dedo na ferida: o Google News mais ajudaria que atrapalharia jornais, revistas e outras fontes de informações. Não é bem o que eles pensam. Na verdade, cresce o coro de executivos da mídia que acha que o serviço se apropria indevidamente de seus conteúdos para gerar a sua página de notícias automática. O Google rebate, afirmando que faz apenas “uso justo” (“fair use“) desse material alheio e que os jornais se beneficiam grandemente do tráfego que ele lhes gera, já que usa apenas pequenas porções de textos e imagens, remetendo os internautas aos sites de origem das notícias.
O discurso de Schmidt aconteceu em plena reunião anual da Associação de Jornais da América e foi seguido de perguntas relativamente comedidas da platéia, formada por líderes da indústria. O momento estava cheio de ganchos para a fala do CEO: a mídia -especialmente jornais dos EUA- está atravessando uma crise sem precedentes, com a bancarrota de vários títulos tradicionalíssimos, o Google começou a veicular anúncios no Google News e a Associated Press resolveu endurecer na proteção dos direitos de propriedade intelectual do material que ela distribui.
Essa discussão não é nova: em março de 2005, a France Presse processou o buscador, pedindo US$ 17,5 milhões de indenização pelo uso de seu material no Google News. O processo foi arquivado dois anos depois com um acordo entre as partes. Os detalhes não foram revelados, mas o Google News pôde continuar publicando material da agência francesa. Um ano antes disso, um acordo semelhante já havia sido firmado com a Associated Press (que nem chegou a processar o Google). E essa briga também remete a outro assunto que já rendeu acalorados debates, mas anda em baixa: o “deep linking“, que significa um site apontar diretamente para matérias ou artigos de outros sites, ignorando suas home pages. Exatamente como fazem os links nesse post, por exemplo.
A discussão atual gira em torno do que é “uso justo” do material de terceiros. Assim como no Brasil, nos EUA é legalmente aceitável usar porções limitadas de produtos alheios (até mesmo de concorrentes), dentro de condições específicas. Um exemplo clássico é o uso de até três minutos de imagens esportivas geradas por emissoras de TV nos programas jornalísticos de outros canais.
Porém, como acontece sempre que existe um juízo de valor envolvido, o limite entre “uso justo” e uso indevido é tênue. O próprio Schmidt disse no evento que isso depende da escola que o jurista seguir, mas fez questão de acrescentar que, na dúvida, a balança deve pender para o lado do consumidor. Nas entrelinhas, jogou a batata quente no colo dos donos de jornais: se não concordassem, poderiam ser taxados de anacrônicos e contrários aos interesses dos internautas.
Os executivos, por outro lado, sentem-se pressionados para manter suas operações -mais que rentáveis- vivas em meio à crise. Muitos pensam em fechar o seu conteúdo, indo na contra-mão da indústria, outros estudam a adoção de micropagamento ou de outros modelos alternativos. Nesse cenário de incertezas, o Google News pode, em suas visões, ameaçar o “controle” dos produtores de conteúdo.
Então vem o Google e argumenta que, qualquer que seja o modelo de negócios adotado, ele é o maior parceiro do produtor de conteúdo, pois nada lhe geraria mais tráfego individualmente que o Google News e sua tradicional busca. E ele tem razão. Estudo realizado pela empresa de pesquisas Hitwise Intelligence mostra que, de todo o tráfego dos sites de notícias em março, 21,69% foi gerado pelo Google e outros buscadores. Os executivos da mídia sabem disse e declaram que não querem perder um “parceiro” tão importante.
Apenas não querem fornecer o conteúdo para que ele crie as páginas que lhes geram esse tráfego…
Filed under: Jornalismo, Tecnologia | Tagged: Associated Press, ética, CEO, consumidor, conteúdo aberto, conteúdo fechado, crise, deep linking, direitos autorais, Eric Schmidt, fair use, France Presse, Google, Google News, Kachingle, lei de mercado, mídia digital, mídia impressa, micropagamento, tráfego, uso justo |
[…] Tirar o seu conteúdo do Google para deixá-lo restrito ao Bing, que mal faz cócegas ao primeiro? Provavelmente todas as pessoas, exceto as envolvidas no acordo, diriam que isso é uma enorme estupidez. Afinal, como apontou recentemente a consultoria Experian Hitwise, 21% de TODO o tráfego de sites de jornais vem do Google, contra míseros 2% do Bing. Essa troca de conteúdo por tráfego seria o “uso justo”, que embasa a defesa do Google no assunto. […]
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[…] Tirar o seu conteúdo do Google para deixá-lo restrito ao Bing, que mal faz cócegas ao primeiro? Provavelmente todas as pessoas, exceto as envolvidas no acordo, diriam que isso é uma enorme estupidez. Afinal, como apontou recentemente a consultoria Experian Hitwise, 21% de TODO o tráfego de sites de jornais vem do Google, contra míseros 2% do Bing. Essa troca de conteúdo por tráfego seria o “uso justo”, que embasa a defesa do Google no assunto. […]
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